não dói a ausência
(que essa é inexistente)
do gosto da sua flor roxa
nem dói a presença
(que essa nos afoga e entorpece)
dói a presença na ausência
dói o gosto de flor roxa que fica
em meus lábios
o cheiro forte pregado nas narinas
a textura toda da pele toda da pele
colada na textura toda da pele minha
o toque viscoso do molhado seu
em mim mesclado aos meus molhados
tocando em si
queima-me a visão cheia, nítida e morena
definitiva vista como se parassem os olhos
de ver
para no escuro fixar em luz
a sua invertida e projetada miragem
nos meus bilhões de acetatos superexpostos
os sons, os glides, os gemidos
o murmúrio, o estalo e o suspiro
toda a orquestração da sua voz gutural
dói meu pau
dói a batida tântrica do seu corpo em seu corpo
e no mundo
ritmando o mudo ouvir do meu corpo
o minimalista e intermitente arrulho
do seu sonido
retumbando em minha cabeça oca
de qualquer eco qualquer
dói a presença na ausência
dói o você inarredável
o gosto, o cheiro, o textura, o cor o som e o tempo
pairam como beija-flores endemoniados
sob e sobre a sombra
do que eu ainda vou ser
no futuro
não dói a saudade
você não é mais saudade
(você deixou de virar saudade
na segunda primeira vez
que a vi)
agora você é só uma verdade atômica
com um espinhento sempre
entremeando
o gosto da sua flor roxa
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