quinta-feira, 27 de maio de 2010

Biologia da libertação e Linguagem dos animais, agora no Google livros

Meus únicos dois filhos machos, os livros Biologia da libertação e A linguagem dos animais, estão agora disponíveis pra consulta no Google livros, uma bela ferramenta de busca, ou pelo menos incontornável, nesses dias de submissão (ainda) quase total da internautolândia ao Google. Pelo sim, pelo não, vai a sinopse de cada um.

Biologia da libertação: ciência, diversidade e responsabilidade (Belo Horizonte: Mazza, 2008)


O Biologia tem a participação de vários autores de que gosto particularmente - 19, no total, de 7 países diferentes - discutindo as muitas faces do biológico: os modos de descrever e as relações que estabelecemos com os objetos naturais. O livro republica as duas únicas edições do Caderno de Filosofia & Ciência do jornal Cometa Itabirano, mais 6 artigos inéditos. Parafraseando a orelha, "mais coisas rastejando na terra e voando no céu do que sonham os programas genéticos e os fatores ambientais". O livro comemorou, ainda, os 200 anos do nascimento de Charles Darwin e os 150 anos da publicação de A origem das espécies.

Pra ver o Biologia no Google livros, clique aqui
Outras informações, e onde comprar: http://www.biolinguagem.com/livros.html       


A linguagem dos animais & outros escritos (Belo Horizonte: Mazza, 2008)

O Linguagem reúne 40 artigos meus (um co-autorado por Alexandre Pimentel) publicados nos jornais O Tempo e O Cometa Itabirano entre 2002 e 2009. O livro está organizado em seis capítulos temáticos: Lingua-linguagem; Darwinianas; Política com ciência; Do 25 de abril ao 26 de Julio; Povos do Livro; e Nigerianas. Comum a todos os temas, a afirmação da diversidade nas culturas humanas e não-humanas e da linguagem como o espaço de sua realização. Os textos abordam questões de ciência, arte e vivências do autor, sempre na reflexão política. As ilustrações são de Tá Morelo e o prefácio de Mario Drumond.

Pra ver o Linguagem no Google livros, clique aqui.
Outras informações, e onde comprar, http://www.biolinguagem.com/livros.html

terça-feira, 18 de maio de 2010

É natural levar vantagem, certo?


Decisões fortuitas e fatos insignificantes podem gerar conseqüências importantes e duradouras. Em sua autobiografia, Charles Darwin diz que sua mais importante viagem ao redor do mundo (em que vasculhou a costa brasileira e reuniu indícios para a teoria da seleção natural) dependeu “de uma circunstância ínfima (...) e de uma coisa tola - o formato do meu nariz”. Gerson - o Canhotinha de Ouro - brilhou no nosso futebol dos anos 60 e 70, com visão de campo e lançamentos precisos que fizeram seus companheiros de equipe, como Jairzinho, Tostão e Pelé, grandes artilheiros. Mas foi a atuação em um comercial de TV que imortalizou seu nome na forma da lei, a “Lei de Gerson”: o importante é levar vantagem em tudo. Gerson merece ser lembrado pelo que fez de grandioso, e, não, por sua ligação acidental com a lei da falta de caráter, mas nem sempre temos controle sobre os efeitos das pequenas decisões que tomamos (um tema espetacularmente tratado no filme de Tom Tykwer, “Corra, Lola, corra”).

Desvio de recursos e malas suspeitas são noticiadas hoje com uma novidade no Brasil, um pecado circunstancial do atual governo ou de seus partidos aliados. No entanto, além da lama sabidamente respingada na oposição, a popularidade e longevidade da Lei de Gerson derruba essa hipótese em definitivo. O caixa dois nas campanhas eleitorais é uma triste tradição, e precisamos de uma revolução cultural, tanto quanto trocar as raposas que tomam conta do nosso já pauperizado galinheiro. A ciência também tem sua equivalente da lei da vantagem, e, como a de Gerson, transcende as particularidades do aqui e agora. Segundo algumas teorias em voga entre os cientistas, “levar vantagem em tudo” pode ser uma característica intrínseca das interações humanas, um corolário da seleção natural em populações de organismos (as chamadas “estratégias evolutivamente estáveis”) ou até a própria lei da vida! Não escondo meu preconceito contra esses três níveis de aplicação da canalhice nas ciências naturais, mas, antes de criticar, é preciso compreender.


Darwin tem lá sua parcela de culpa no sucesso da lei natural da vantagem. A metáfora darwiniana da “luta pela existência” abriu caminho para uma série de equívocos, culminando no infeliz termo de Spencer, “sobrevivência do mais apto”. Se apenas o mais apto sobrevive, não é justo bancar o Dick Vigarista na maluca corrida pela vida? Darwin nunca quis dizer isso, mas o conceito pegou, embalado pelo individualismo da sociedade industrial. Sucesso reprodutivo diferencial virou sinônimo de competição desenfreada no mundo natural. Um desdobramento recente desse modo pouco generoso de ver a vida é a psicologia evolutiva (EP), que, entre outras pérolas, prega a capacidade inata que nós humanos temos de trapacear e evitar ser trapaceados. Nas palavras de John Tooby e Leda Cosmides, representantes máximos da EP, “debaixo de um nível de variabilidade superficial, todos nós partilhamos certas suposições sobre a natureza do mundo e as atitudes humanas em virtude de circuitos universais de racionalidade”. Traduzindo a fala pomposa de Tooby e Cosmides, agimos como agimos por uma dádiva (ou uma praga) da natureza, não por mera escolha. Perdoai os colegas faltosos, ó membros da CPI, pois eles não sabem o que fazem!


Os teóricos do espertalhão universal (ou seu oposto igualmente falacioso - o humano naturalmente moral) esquecem o componente histórico tanto de organismos quanto das relações sociais entre eles, a que chamamos contingência. Sim, há muito planejamento nas interações sociais, mas os planos se sobrepõe, e, no jargão das ciências cognitivas, os comportamentos observados “emergem” de atividades contextualizadas. Uma boa analogia é o planejamento urbano. Nomes de ruas podem seguir algum padrão, facilitando a vida de quem busca o endereço. Vejam, então, o caso de um bairro da região de Venda Nova, em BH. Algum amante da literatura decidiu dar às ruas nomes das grandes penas da língua portuguesa: estão ali imortalizados Humberto de Campos, Castro Alves, Camões. Outro, mais afeito às geografias, deu a outras ruas, aleatoriamente, nomes das grandes capitais do mundo. Como se não bastasse a curiosa mistura de literatos e cidades, um terceiro administrador (eu desconfio, com algum senso de humor) entrecruzou, em meio às fileiras de capitais, uma Rua Inglaterra, uma Rua Argentina e uma Avenida Universo!


As relações que se estabelecem nas várias sociedades de seres vivos seguem algo muito parecido, baseado na ações contingentes dos organismos - que podemos chamar de “atividade situada” - e na história particular dessas relações. Esse é o nível mais iluminador para entendemos o que acontece, e não um suposto elemento universal embutido na cabeça de cada membro da sociedade. A não ser, é claro, que queiramos responsabilizar a natureza pelas relações que estabelecemos uns com os outros, sejam elas lícitas ou ilícitas. Eu gosto de “Avenida Universo”. É um nome bem bonito, desde que todas as vias públicas não tenham esse mesmo nome, certo? 


Publicado no jornal O Tempo, 07/09/05

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