domingo, 31 de julho de 2011

em que os olhos relatam um estranho 31 de julho



os olhos se abrem e vê-se à frente
na tela plana dois discos
bidimensionais de matéria negra
glóbulos pétreos de ônix
entre os cristais polarizados
do écran de fileiras de pixels
versus colunas de pixels
ambos dessincronizados
com os dispositivos biológicos
de distinção de objetos luminosos:
olhos, câmera, paixão.

dos dispositivos biológicos
de distinção de objetos luminosos
de comprimento e frequência baixos
de difração e interferência altas
em ondulatória onda plana
dando forma a cores, nome e desejos
secreta-se um fluido lubrificante
de água, sais, proteína e gordura
por sobre a conjuntiva bulbar
filme líquido, saudade pelicular:
choram os olhos de olhar a visão

a luz turva
efeito de cintilação
a hidrófila tela
da lágrima côncava
lava os claros olhos
pra longe dos olhos escuros

a luz bate e volta
é feita de água e de chão
só a reflexão é final:
trocam-se dois tapetes lúcidos por um tapete voador


.

sexta-feira, 29 de julho de 2011

irrenarrável 29 de julho


não
não muda
a voz não muda
só a voz não muda
ouço que só a voz não muda
ouve que ouço que só a voz não muda
diz que ouve que ouço que só a voz não muda
digo que diz que ouve que ouço que só a voz não muda
ouço que ouve que diz que falo que só muda o amor que cresce
ouve que diz que falo que muda e cresce o amor só
diz que falo que só cresce o amor que muda
falo que só cresce o amor só
falo que o amor só muda
falo que cresce
falo de amor
só amor
amor

.

quarta-feira, 27 de julho de 2011

Em que ele relata o presente no dia 27 de julho



Vasculha
O quarto
A vontade
A saudade
Vela
O menino
Zune
A viola
Nela
De cabeça
A cachaça
A ela
Virada
Imagem
Dobrada
A lembrança
Dela
Estourando
Soluço
Apertado
Um
Dia
A mais
Diluído
Em nada.

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domingo, 24 de julho de 2011

she is



a dona mais bela do mundo
marca eu em chão de giz
a mais bela dona do mundo
molha nós em céus febris
a dama mais linda do mundo
sente eu em o que ela diz
a mais linda dama do mundo
faz de mim o que eu nunca fiz
a mulher melhor desse mundo
mastiga a palavra matiz
a melhor mulher desse mundo
quer me bem o que eu sempre quis
que é ela ser dona do mundo
em que em ela eu sou feliz
que é a dona do mundo ser ela
com um brinco no nariz

.

pausa



é inútil pedir pra dor se sentar em um lugar quieto
e quieta observar imóvel (ou ao menos com gestos poucos)
o desenrolar das batalhas internas
o adulto treme, e chora
e se enrosca em torno de si mesmo
e mal levanta a cabeça
ou só levanta a cabeça
onde possa a criança atirar fezes
em seu rosto doente
em seus olhos molhados

ao ver o espetáculo de torções d´alma
a dor não escuta ninguém
não escuta o adulto
não escuta a criança
a dor simplesmente se levanta
antes de qualquer despertar
nutre-se de sua vítima e mergulha
nadando vigorosamente máscula
entre uma ponta e outra do coração
exaurindo o amor e os amados

levantar-se e olhar de frente a dor
lutar e escutar de vez a própria voz
em meio ao barulho, o arrulho
ensurdecedor que a dor faz
limpa temporariamente
lava por preciosos segundos o peito
estado vívido que sem esperança
espera à espreita
lúcido em que a dor recomeça e
logo retoma o lugar que é pra sempre


.

sexta-feira, 22 de julho de 2011

monte das oliveiras



toda mulher é a mesma coisa
toda mulher é uma coisa
toda mulher é um objeto
toda mulher é o mesmo abjeto
toda mulher é mulher
e se não fosse
eu mesmo homem afundaria
no poço de toda mulher
mesmo se eu fosse
outro objeto
mesmo se eu fosse
o mesmo objeto
mesmo se eu fosse mulher.


.

terça-feira, 19 de julho de 2011

todo universo vira verso



todo universo vira verso por causa docê.
repara:

a pluma cai sobre a pele
furando a teia
que se enraiza
na tampa da sensorial panela

os dias somam
muito menos que horas
no caldeirão matemático
do eletro-eletrônico amor

o vão entre os dias e o quarto entre as horas
limitam a saudade
ao geológico estrato
que o tempo não quis

espada recém-afinada
corta essa
corta onda
corta-se e corta relações

e despeja
gotas de sangue
sobre um vampiresco e imenso
termocoagulador

junte essa turba de signos
junte essa massa de dogmas
e coloque-os
no mesmo cosmochão

e o céu que acima o produto
esgota em um breve minuto
o vapor que exuda
em cada um dos meus senões

a minha sorte (a sua sorte)
é que o mundo dos vivos
é muito mais mundo
que o imundo mundo dos sós

repete os dramas de sempre
com mínima mística
estática tísica
química explosão

eu encho os bolsos de gostos
que eu já recolhi doutra vez
e se a cada duas de estar numa sua
só somam se somos os três?

eu cubria-me de outros mundos
pra lograr viver em dobro
- você é a descoberta -
sobram mundos sem cobertura?

cada desejo e cada fractal
de desejo
caleidoscopa
meu amor com todo o seu

eu deixo o desejo todo
espalhar fragmento
de todo o meu
amor num olho seu


.

sexta-feira, 15 de julho de 2011

sensatez



quando penso
deixo entrar nos braços e pernas
tudo aquilo de que é feito o pensamento
ou toda aquela
ela

ela sobe escalando a trepadeira
que enverdece enraizada os meus membros
e entra pela toda dezena de unhas
e toma os dedos, as mãos e os braços
e toma os dedos, os pés e as saudades

amiga de meus apêndices
matéria do pensamento:
de que é feita uma amizade?
tenho pernas pra correr e encontrá-la
o mais rápido que o vento alcança
não tenho jeito pra ficar parado
esperando o pensamento amigos
fazer as vezes do corpo amantes

e então viro a cabeça no travesseiro
e aguardo a chegada triunfal do sono
que esse, sim
é amigo do peito
embora sofra
de esfriar-me o leito
ele chega enfim.
mas ela sempre chega também.


.

terça-feira, 12 de julho de 2011

reze agora o que aprendi



reze agora o que aprendi
nade em um mundo que eu não vi
tape o sol com as mãos em cruz
barre a luz com a noite gris
bote um samba em auto som
saia pro mundo do avião

reflita o céu em queda audaz
navegue o chão do espaço aéreo
tateie o vento a baixa altura
barqueje o corpo em vácuo caos
boceje em lento azul neon
saque de um pote a arrumação

retenha a força em cada pouso
naturalize essa razão
taxe no embarque cada dor
barganhe em terra esse amor
bobeie em cada negociata
sacie a fome no meu pão.


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domingo, 10 de julho de 2011

acalma esse coraçãozinho e bate ele piano




acalma esse coraçãozinho e bate ele piano
com um bumbo manso de reisado firme acompanhando
dispara um trompete longe ouve o dó que entra
e espalha a melodia curva em metal dourado
segura a mão da meninada e canta de mansinho
aquela tão triste toada de embalar criança
a história de um amor perdido em terras forasteiras
e alguém que espera com o olhar comprido vivo na lembrança
ao lado da fogueira alguém rasga o primeiro acorde
de uma viola encordando a noite enluarada
a lua é uma mulher que brilha mais que toda estrela
mas tem tanta estrelinha em volta que ninguém se apaga
um velho sábio chinesinho que ali escutava o
som das terras caipiras abre o embornal e
saca sua flauta grande em bambu talhada e
sopra cada nota e juntas sobem em lindo espiral

acalma esse coraçãozinho e toca nele uma rancheira
fecho meus óio ouço e me acalmo também
teu peito é o toar suave que me acolhe à noite
teu dia é o sol que aquece a dor de esperar meu bem
teu peito é o toar suave que me acolhe à noite
teu dia é o sol que aquece a dor de te esperar, meu bem





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quinta-feira, 7 de julho de 2011

érro, érra, êrro



érro, érra, érro: erro com é aberto 
ce ce erra e é verbo 
oz errez razgam-ce redobradoz 
êrro, êrro, êrro: erro com ê fexado 
um acim nomeado erro 
vocaiz soantez, depoiz erradoz

milionária contribuissão 
de toda ozvaldandradiana lida 
aprende e aprendo aprendemoz 
teimamoz menoz 
em amar errando 
(naçe a forssa, ao errar-ce amando)

a cada errinho e erro imenço 
dizpara o amor cimbionte 
por çobre az febrez 
junto aoz cançassoz 
e àz gravez culpaz 
e àz tão triztesaz

errar a séu aberto, cermos um páçaro 
em ci fexado 
revoa o trageto todo 
errando torto 
voando errado 
o pouzo enterra no ôco 
de um ninho quente 
multiplicado

erra aberta o erro fexado 
entresserradoz erramoz 
a vida em duplicata 
berramoz de medo da vida 
em duaz viaz 
o olvido aberto 
a vida em errata 
(naçe a forssa, à forssa do erro)

por la marxa paça-ce ao serto o paço errado 
doiz errantez trombam-ce em nuvenz 
de formaz novaz no séu nublado 
dizpam-ce oz erroz à frente: 
cada passado de nós 
nos faz mais atados 
a cada passados nós 
a nós somos dados 




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terça-feira, 5 de julho de 2011

lisérgico somos amores



um campo largo
com flores
no campo
a visão tão
horizontal quanto alta
já me trazem a calma
de um saber-me calmo

(mas) tenho um tanto
de flores a mais
nos meus quintais
de agora

já não são só os campos
nem só os cheiros das
flores, os dulces sabores
de frutos tenros da roça
que me encontram
babando
e feliz

mereço eu (não mereceria?)
além de tudo vasto
de tudo basto
de todo cantinho florido
que já colho e cheiro
uma floresta inteira
de seres diversos
povoando os versos
do meu agrado?

ai não sou poço
de chão infundo
entornam-me o mundo
de amor renhido
a sorte reinada
somos amorados e
eu grito: quero!
e é merecido
se a mim é dada
a mais linda flor
do agora e mais nada

não careço de mais chão pra cavar
o buraco
em que meti a mim
é meu último
e alto jardim


.

domingo, 3 de julho de 2011

palco


abre a cortina.

(olha e teima em não parar de olhar
molha e queima a pele, a roupa, a cama e
ama, ar, dor, que troca
de roupa de cama
revira um o outro travesseiro).

o pouso macio e fundo
dos cabelos amor tecendo
a cabeça cheia, cabeça boa
os olhos rindo postos no teto.

e o seu aberto, o seu aberto
o chão pareado de seus sapatos
meias meias,
e me retrata, e me retrata.

a boca toca no vão das patas
a língua é franca, e arranca a língua
um som acima do seu pescoço
é só o começo, é só o começo.

um palo seco de fonte úmida
enche a penumbra
de seio a seio
e é só o meio, é só meio.

a boca busca o falatório
e puxa o fluxo de extintas gentes
e em fim acalma,
a enfim a calma.

dali pra frente a noite sente
que o dia chega e o aconchego
é o que o ator doa ao palco manso
da atriz desperta de lado ao lado.

e o show prossegue
no dia certo que a data é longa
o tempo é curto
o mês é júlio e a fruta é fresca.

não vou fechar a cortina. o público pode sair, se quiser.
nem se esgotaram os ingressos.

no alvorecer de um dia outro
bate à porta do meu teatro
és personagem de outra autoria
deixo-te solta, deito-me tua.


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