sexta-feira, 30 de setembro de 2011

cada um com seis problemas



um nome aprus pra vênus
urge a deusa surgir desse abril
em bendição venusiana eterna
é festa venérea e fortuna viril

dois corpos ungidos em maia
desse o outono austral mais dez maios
em gaia o sol fundiria as duas vidas
é fundo e é vivo o adubo dos raios

três luas cheias completas
transitam outras heras no céu de um junho
em mãos invernadas a mais três marias
é um manto de astros nosso testemunho

quatro lados tem o desejo
que impera à conquista do tempo de julho:
em saudade, em paixão, em dor e alegria
é em dar quatro frutos que é prenhe o orgulho 

cinco, finalmente, augusto cinco
casi te la hinco a rodo e agosto
em pleno ciúme se enfiam as calmas
é ardor renascido onde o ódio é deposto

seis não sei se é certo ou errado
sextilius ou septimus mês de setembro?
seis seus problemas insolucionáveis
só do amor cê cuida, só do amor me lembro

.

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

olha ali duas pessoas apaixonadas

olha ali duas pessoas apaixonadas
vemos que estão apaixonadas
e queremos acreditar que sabemos
que elas estão apaixonadas

olha os gestos delas:
são os mesmos gestos
das outras pessoas

olha o andar dessas pessoas
notou algo diferente?
pois então: não há.
o mesmo andar das duas desfila
o andar de tantas outras gentes

olha o que dizem essas duas pessoas
(devem dizer coisas assombrosas entre si,
mas isso não ouvimos)
o que elas dizem e as ouvimos dizer não é
diverso dos dizeres de outras gentes

o olhar de ambos não diz nada
além
de tantos outros olhares
de tantas outras pessoas

o olhar que distingue duas pessoas apaixonadas
das outras pessoas
é ver que tudo nessas pessoas
é indistinto

olhar já não faz diferença,
para o casal apaixonado,
para as indiferenças do mundo.

.

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

comer, escrever



dizem aí pelas linguas que comer é um ato social.
julgam sobver ou sobrever na etimologia do nome do ato,
o latinório que justifica a cisma:
cum edere, comer com, com comer, comer junto.
o participar de outros, ou de alguém mais,
no ato de enfiar coisas na boca.
bobagem!
abre-se a boca e engole-se algo. e é tudo. no mais das vezes.
claro, boas companhias melhoram o sabor da comida,
tal como as más engulham, agravam a má digestão.
e assim o ruim e o bom se anulam.
tal como comer sozinho é bom e ruim
e ao ponto de partida voltam em mãos dadas
tanto os prós como os contras da comida.

mas escrever, por outro lado,
é totalmente desprovido de solidão.
escrever é, de todo em todo, um afazer social.
não porque se escreve pra outros, ou pra alguém mais,
no ato de enfiar coisas na escrita.
bobagem!
se assim fosse, a agenda de telefone,
esse depositário da memória individual,
seria inútil e, por tão ensimesmada, desproposital
tanto os prós quanto os contras da escrita.

escrever (ou digitar, como é corrente nesses hojes de hoje)
é disposição no todo em todo social
pois é fundamental
amar pra escrever.
e dito isso, não preciso dizer mais nada.


.

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

2917 A.D.



eu barco navegando À Deriva
madrugada adentro e eu entro em nada
(não há farol neste mundo que me guie como tu)

eu claro duplicando essa face
é imagem dentro e eu adentro nada
(não há espelho neste mundo que reflita como a ti)

eu rato mordiscando a comida
é presa e entro eu dentro de nada
(não há gato neste mundo que mie como tu)

és louca em fazer-te menina
deixando de fora meu fauno diário
(morrer na praia é morrer ao cubo se não como a ti)

900 anos passados e o desejo é o mesmo
(mesmo nós não sendo nós mesmos pela manhã)

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sábado, 17 de setembro de 2011

entrada e saída



chego no prédio
toco o interfone
ela diz: entra
eu entro
vou pro hall
subo no elevador
chego no apartamento
toco a campainha
ela abre a porta
quase entro
passo os dedos pelo batente
da porta
e entro
...
ela diz: sai
saio do apartamento
deixo a porta da frente
desço pelo elevador
vou pro hall
saio do prédio
saio
...
o ciúme tiene duas vias:
1) para entrar, hay que pedir licença
2) para sair, no más que minha obrigação

.

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

sempre imaginei



sempre imaginei, em minha infância de adulto,
que a calma era o oposto ao ir fundo,
nas coisas, pessoas, nos mundos.

acostumei-me a isso.
se a calma não fosse isso (eu pensava),
nem mesmo a isso eu me acostumava.

nem a velhice cor de laranja
dos meus 40 anos, ensinou-me diferente
(nem velho o diabo sabia o que por ser velho soubesse)

só no ato da coroação
quando muda a cor da passageira paixão
é que verte a calma,
líquida e derramadeira
enchendo o cálice do amor
de ainda pior confusão.

mas o que é isso que digo!
falava eu da calma, não é mesmo?
então que diabo de voz é essa,
que faz da calma um objeto
e dela disserta como em um texto?
isso aqui é poesia afinal,
ou um discurso em verso alternado
velando um escondido furor teatral?

o poema é distinto do dramaturgo monólogo,
que o monólogo quer, irrestivelmente,
duplicar-se em diálogo.
o logos da fala monologada
do meio do palco,
a mensagem alçada,
à plateia postada,
dispersa na arquibancada
e duplamente dialoga:
consigo mesmo e com quem for
(é a dança do ouvir-e-o-tagarelar interior,
trazendo pra tela do texto,
o que em muito de si tem o autor).

poema não fala nada, só faz.
pois quem escuta o poema
não é plateia, nem nada, nem gente, aliás.
é a própria autoria desorientada
que colhe plantadas palavras
e as traga como cenouras
cagando-as logo após
em bosta no tom avermelhada.

mas falava eu da calma, não era?
ou será a querida ouvinte,
que tomando do embuste ciência,
já perde com este sujo vate
cada quilate de sua paciência?

.

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

primeiro de setembro



chorando sozinho eu não fico
perdão pela minha alegria
felizmente eu tenho a tristeza
pra me fazer companhia

nas horas mais difíceis dessa vida
é fácil achar motivo pra sorrir
o duro é vomitar dias perdidos
dar mole presse choro te engolir

chorar não esvazia essa tristeza
sorrir não enche a vida de amanhã
o sorriso é a sombra da macieira    
o choro é sementinha de maçã   

eu tento me esquecer do dia primeiro
do mesmo mês há um ano exato atrás
se lembro a estrela é menos paraíso
setembro meu inferno astral é mais

chorando sozinho eu não fico
perdão pela minha alegria
felizmente eu tenho a tristeza
pra me fazer companhia

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Haicai (do Conde Arthur)

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