se eu fosse homem o bastante
se eu fosse enough mulher
eu me enforcava na praça
para escárnio de todos
e opróbrio próprio
diria ao povo mineiro
e aos que nem povo não são
que morro de mal alheio
morro de amor
ou só morro
tomava já mortovivo
da vida remorta então
um enferrujado facão
desses de maculelê
esses de cortar cana
ou coração
e decepava-me inteiro
ou em partes primeiro
cortava meus braços
um de cada vez
ou de vez os dois
nós dois
e cortava as minhas canetas
desde o baixo tornozelo
beijando com o fio da faca
subindo pelas rodelas
de batatinhas das pernas
atingia-a sobre coxa
brigando a faca e a boca
pra tirar o maior naco
a lingua bem afiada
até o centro profundo
e me cortava o pescoço
já esticado na corda
separando a cabeça
da alma que trago embaixo
salta do peito pra fora
o órgão envermelhado
espalhava meus pedações
por partes belorizontinas
os olhos na tua janela
a bunda no pirulito
e aquele apêndice inútil
na rua do amendoim
morro como um mártir
vôo para abraçar-te
como fosse um zumbi
corro para amar-te
que serás tão bem
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