digo que o amor é igual
a perguntar quando deus criou o tempo.
como lá, amar é igual a não saber.
deus criou o tempo não se sabe quando.
isso nem mesmo é um mistério:
pois mistério é algo que ocorre
vedado ao conhecimento.
ambos (mistério e conhecer)
ocorrendo sempre no tempo.
se não se sabe quando
deus criou o tempo,
nem não mesmo se não se sabe.
e o amor não é assim?
igual a um não-começo
e um não-mistério sem fim?
como no demiurgir do tempo
o amor nem mesmo é mistério.
devemos ruidosos daqueles rir
que endemoniados tentam
o tempo no amor fluir.
o amor tem essa virtude (essa maldição):
o amor, quando acaba,
acaba antes-depois do tempo.
quando não acaba,
nem não é que seja eterno:
é que não-acaba fora do tempo.
como se de consciência isento
nem não mesmo se não se sabendo
se se ama ruim ou se ama a contento.
acabar e não continuar, em se tratando de amor,
sempre é nunca, nunca o que sempre for.
continuar e não acabar, em se tratando de amar,
nunca é sempre, sempre o que nunca será.
o segundo (continuar a amar) é monstruoso.
sofrimento físico e intelectual de
se deixar pra sempre amar quando
mais amor nunca houve nem haverá.
o primeiro (acabar o amor) é só saudade e é bom.
o amor acabar fora do tempo,
que é nunca mais acabar de amar.
o amor acabar fora do tempo,
que é nunca mais acabar de amar.
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