domingo, 11 de abril de 2010

A vez dos secundaristas

Março viu o movimento estudantil colocar nas ruas a Jornada de Lutas. Em Belo Horizonte a ênfase foi o passe livre nos ônibus, mas o movimento tem bandeiras mais amplas. Enquanto a velha classe política faz cabo-de-guerra para enfiar o máximo de recursos do Pré-sal em seus respectivos estados, estudantes de todo o Brasil querem metade desse fundo na educação, ou seja, para todos nós. Chamo a atenção para um setor estudantil muitas vezes subestimado como força política consciente e organizada: o alunado dos ensinos fundamental e médio sob a liderança nacional da UBES e, em nosso estado, da União Colegial de Minas Gerais. São os secundaristas.

Mais representativos da sociedade brasileira que os universitários, a massa dos secundaristas está naquela zona cinza a que chamamos “adolescência”, com contribuições para a política bastante particulares. O secundarista tem, tipicamente, de 11 a 17 anos, faixa em que cerca que 80% da população brasileira frequenta a escola, abrangendo mais estratos sociais que o contingente bem menor de universitários, reduto das classes altas. Daí a relevância do voto aos 16 anos, outra bandeira secundarista. Mas a qualidade da atuação política dos adolescentes é difícil de aceitar, pois depende justamente de nós, adultos, admirarmos com mais cautela os benefícios da maturidade.

Não há nada mais antigo que a queixa contra “a juventude de hoje”. Adolescentes são sempre mais anestesiados por modas passageiras, mais seduzidos pela sociedade de consumo e mais idiotizados pelas novas tecnologias que os jovens de uma improvável era de ouro perdida. A urbanização e a vida cada vez mais “plugada” que vivemos têm um papel na legitimação desses mitos, mas, exatamente por isso, devíamos olhar com mais respeito para os setores menos envelhecidos da nossa sociedade. Adolescentes não são simples vítimas (nem cúmplices) das vertiginosas mudanças. Ao contrário, estando imersos nesses novos modos de vida, exercem um papel de vanguarda cultural. Pouco habituados à ordem vigente, adolescentes de todas as épocas são os atores humanos mais à vontade na manipulação de recursos, saberes e técnicas, especialmente abertos à construção de uma sociedade mais solidária, seja qual for a tecnologia de plantão. Dito de outro modo, não entendem muito o fetiche dos adultos pelas novas tecnologias, pois não as sentem como novas, mas corriqueiras. 

Talvez não levemos a sério os secundaristas por conta de preconceitos arraigados, ou, na melhor das hipóteses, por um ataque de uvas verdes: incomoda a nós, adultos, nem sempre plenos sexualmente, a incrível energia, o tsunami hormonal desses jovens. Uma reportagem recente sobre as passeatas secundaristas anunciava (em subtítulo) que “os estudantes aproveitaram para colocar a paquera em dia”. Mostrei a matéria a uma amiga adolescente e ela rebateu, fulminante: - Mas quando é que nós não colocamos a paquera em dia?
Publicado no jornal O Tempo, 08/04/10

Nenhum comentário:

Marcadores

1969 25 de abril a linguagem dos animais a origem das espécies abbey road adolescente adriana leão áfrica alexandre pimentel ambiente américa do sul animais anos 70 antes arthur vianna artigo as filas de francolise ASA assange atlantico babalorixá bairros baixo beatles belo horizonte beto vianna bh biologia biologia da libertação blocos blocos caricatos brasil brinca belô caderno de filosofia e ciência caetano veloso canela carnaval cego cheiro chuva chuva em dois bairros ciência coffe shop cognição cometa itabirano competição conto convite copa 2010 cor cordel cosme e damião cplp cuba darcy ribeiro darwin darwin 200 descobri desmatamento diferenças culturais embora EP escolas de samba estudante EUA evolução expedicionario experiência extinção facebook feb felipe melo fio flor floresta força expedicionária brasileira G7 gêmeos george cardoso george harrison globo google livros greenpeace grito guerra hebdomadário hemisferio sul homo hugo chávez identidade III SCC ile ife india indio indonésia interculturalidade jabulani jesus john lennon john tooby jornalismo josé mauro da costa julian julian assange juventude kitkat la nación lançamento larissa leak leda cosmides lei de gerson libertação limpeza étnica lingua lingua portuguesa linguagem livro livros de graça na praça loucura i fé lua lusofonia madalena madonna manhã mario drumond mazza menina menino mineiro morcegos movimento estudantil mudo mulher música naranja mecanica neguinha de ogum nestlé nigéria nudcen o tempo ocidente óleo de palma opep orangotango origem 150 paises pan paraguai paul mccartney paulo speller paz pentelho petróleo pink floyd poema poesia pop portugal prometeu psicologia evolutiva quilombola racismo rainforest reina revolução dos cravos ringo starr rio de janeiro roma tropical rouco sabor são tomé sebastião da costa veloso secundaristas seminário sinestesia soberbia brasileña sobrevivência do mais apto som Spencer sportv sucesso reprodutivo surdo tá morelo tábata taiuô e kéindê tato terceiro mundo travessa ubes ucmg ufrj une unilab universidade afro-brasileira v va vagabunda vapt variação veja venerada venezuela viagem voltar vupt vuvuzela wikileaks zarzuela

Haicai (do Conde Arthur)

No branco da paz,
giram, turbinadas
as emoções de toda as cores

Mini-hai-cai lógico-matemático

ágora

e/ou

nunc