Março viu o movimento estudantil colocar nas ruas a Jornada de Lutas. Em Belo Horizonte a ênfase foi o passe livre nos ônibus, mas o movimento tem bandeiras mais amplas. Enquanto a velha classe política faz cabo-de-guerra para enfiar o máximo de recursos do Pré-sal em seus respectivos estados, estudantes de todo o Brasil querem metade desse fundo na educação, ou seja, para todos nós. Chamo a atenção para um setor estudantil muitas vezes subestimado como força política consciente e organizada: o alunado dos ensinos fundamental e médio sob a liderança nacional da UBES e, em nosso estado, da União Colegial de Minas Gerais. São os secundaristas.
Mais representativos da sociedade brasileira que os universitários, a massa dos secundaristas está naquela zona cinza a que chamamos “adolescência”, com contribuições para a política bastante particulares. O secundarista tem, tipicamente, de 11 a 17 anos, faixa em que cerca que 80% da população brasileira frequenta a escola, abrangendo mais estratos sociais que o contingente bem menor de universitários, reduto das classes altas. Daí a relevância do voto aos 16 anos, outra bandeira secundarista. Mas a qualidade da atuação política dos adolescentes é difícil de aceitar, pois depende justamente de nós, adultos, admirarmos com mais cautela os benefícios da maturidade.
Não há nada mais antigo que a queixa contra “a juventude de hoje”. Adolescentes são sempre mais anestesiados por modas passageiras, mais seduzidos pela sociedade de consumo e mais idiotizados pelas novas tecnologias que os jovens de uma improvável era de ouro perdida. A urbanização e a vida cada vez mais “plugada” que vivemos têm um papel na legitimação desses mitos, mas, exatamente por isso, devíamos olhar com mais respeito para os setores menos envelhecidos da nossa sociedade. Adolescentes não são simples vítimas (nem cúmplices) das vertiginosas mudanças. Ao contrário, estando imersos nesses novos modos de vida, exercem um papel de vanguarda cultural. Pouco habituados à ordem vigente, adolescentes de todas as épocas são os atores humanos mais à vontade na manipulação de recursos, saberes e técnicas, especialmente abertos à construção de uma sociedade mais solidária, seja qual for a tecnologia de plantão. Dito de outro modo, não entendem muito o fetiche dos adultos pelas novas tecnologias, pois não as sentem como novas, mas corriqueiras.
Talvez não levemos a sério os secundaristas por conta de preconceitos arraigados, ou, na melhor das hipóteses, por um ataque de uvas verdes: incomoda a nós, adultos, nem sempre plenos sexualmente, a incrível energia, o tsunami hormonal desses jovens. Uma reportagem recente sobre as passeatas secundaristas anunciava (em subtítulo) que “os estudantes aproveitaram para colocar a paquera em dia”. Mostrei a matéria a uma amiga adolescente e ela rebateu, fulminante: - Mas quando é que nós não colocamos a paquera em dia?
Publicado no jornal O Tempo, 08/04/10
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