teu tecido me enternece
teus tecidos me entristecem
contrátil fêmea, alça gêmea
que empunhamos pelas fibras
e alçamos vôo a um só lado
a extensão fibrosa dói
o impulso enerva e flui
elétrico estimulado
cálcio potencializado
despeja ao mundo o potássio
em cada moto perpétuo
de cada nervo eu me via
se até Pilatos cegava
distenso e atrofiado
quanto a tua fibra me audia?
deslizando a tua actina
por sobre a minha miosina
movimenta um par de ossos
que de ofício têm ser nossos
embutidos esqueletos
encurta-me a espera tua
alonga-me o ser contigo
cada teu nervo motor
modela-me à compostura
de amar mover-me-te amigo
perdoa o meu ser ciúme
perdoa o meu ter costume
perdoa a dor que tu sentes
e sentir-te eu deveria
soubesse eu biologia
perdôo a tua miologia
perdôo a tua tendência
tender-te a estriar-me assim
meu ácido lácio acalma
a língua: nervo comum.
.